segunda-feira, 6 de maio de 2013


UM FRAGOROSO EQUÍVOCO
                                     Francimar Moreira

Movido por um forte esquema midiático, além de muitas manobras especulativas, os preços de imóveis urbanos em Imperatriz têm experimentado aumentos astronômicos. É bem verdade que somos, indiscutivelmente, uma região promissora cujo desenvolvimento ainda está por acontecer. Em assim sendo, seria natural que nossos pedaços de chão, sejam urbanos ou rurais, fossem necessariamente valorizados.

Ocorre, porém, que essa valorização se ampara numa expectativa de crescimento econômico que não condiz com a realidade dos fatos, pois sabemos que o principal fator econômico de Imperatriz é o comércio e essa atividade, por si só, nunca foi, em qualquer lugar do mundo e em nenhum período da historia da humanidade, alavanca para o desenvolvimento sustentável. O seu histórico é de mera influência cíclica, desde os tempos do escambo, e não houve fatos, econômicos ou socioculturais, que alterassem essa realidade.  

A fragilidade de uma economia que se sustenta na atividade comercial reside na probabilidade de surgirem novos polos comerciais em cidades que antes constituíam mercados compradores, além, é lógico, de existir a possibilidade de migração do negócio propriamente dito. Uma conjuntura econômica consistente é a que se sustenta em atividades fixas e permanentes, como a agricultura e a pecuária, ou em grandes empreendimentos industriais e tecnológicos, de implantação difícil, porém de muita solidez.  

Se há quase 40 anos, quando aqui cheguei, já me incomodava ver o Maranhão importando produtos agrícolas, imagine-se o que penso hoje, quando observo que até o arroz que consumimos vem da extrema com o Uruguai e um terço de seu custo final é de frete, encarecendo brutalmente o seu preço. Citei o arroz como exemplo porque, paradoxalmente, o Maranhão já foi um grande produtor desse cereal e hoje não produz quase nada. Mas, infelizmente, até água mineral estamos importando muito, o que é lamentável.

É evidente que uma região com esse perfil econômico tem, necessariamente, um histórico político e sociocultural que o tolera e alimenta. Logo, não se deve, sob pena de sofrer terríveis decepções, esperar milagres em curto e médio prazos. Isso porque, apesar de nosso fantástico potencial, é impossível, no mundo do conhecimento e da informação, advir uma forte onda desenvolvimentista sem que antes ocorram expressivos avanços nas áreas educacionais e tecnológicas.  

Quanto ao fato de estarem instalando ou prometendo instalar aqui grandes atacados, alguns shoppings, hipermercados e redes de comércio varejista, não significa isso desenvolvimento. O comércio vive de explorar as riquezas e potencialidades já existentes e não tem, por si mesmo, a faculdade de gerar riqueza. Ao contrário do que muitos possam imaginar, grandes empreendimentos comerciais, principalmente financiados com dinheiro público e gozando de incentivos fiscais, são, na verdade, fatores de desestabilização econômica e social. E, em nenhuma hipótese, fomentadores de progresso e bem estar coletivo, como tentam nos fazer crer políticos mentirosos.

A propósito deste tema, dois caipiras discutiam num ponto de ônibus, em uma cidade, aqui próximo de Imperatriz, há algum tempo, quando um disse para o outro:
– Cumpade, nossa cidade agora vai proguidi, homi, pois vão butar aqui um baita budegão, um tal de hipermercado, do grupu dos pessoá lá de riba, qui vai sê uma beleza! – foi, entretanto, admoestado pelo parceiro, que retrucou:
– Num se fie nisso, não, homi de Deus, pois isso é uma faca de dois ligumes!
– Como assim, cumpade, dá pro mode expricá dereito?!

 Cumpade, bota sintido no qui vô lhe dizê, homi: imagine qui chegue aqui um baita desse bicho qui tu falou, com dinheiro dos imposto qui a gente pagamo e sem tumbem carecer pagar imposto... sabe o que vai se suceder, homi de Deus?!
– Sei, sim! – exclamou o parceiro, acrescentando:
– Vai criar uns duzento imprego na cidade. Num é muito baum isso, meu camarada?!

 – Ói cumpade, criá os imprego é bom, sim! Mais o probrema são os efeito colaterá, cê intende?!
– Não, cumpade, eu não sei do qui diabo tu tá falano, não. Dá pro mode expricá?
– Efeito colaterá, homi, é um efeito não desejado, por exempro: tu traquina com uma cumade sua, por debaixo das moita e nove mês dispois nasce um muleque com a tua cara... Isso é um efeito colaterá. Intendeu, homi?!    
– Acho que intendi! – Mais, afiná, qualé mermo o efeito colaterá qui o budegão vai trazê, cumpade?

  – Homi, presta atenção! Pode inté criá os 200 imprego, cumo vosmicê disse, mais vai quebrar uns 600 pequeno e médio cumercianti. Digamu que esses futuros quebrados tenham, em média, um impregado; são, entonce, 1.200 famía diretamente prijudicada. Seis vez o númro de imprego que você acha que vai ser criado. Mais tem muito mais efeito, homi! Veja bem, o lucro que o budegão vai ter, num vai ficar aqui não, vai pras capitá ou inté pro estrangeiro. É aí que todos qui mora aqui sai perdeno, pois o dinheiro qui pudia circular aqui, nas mão do barbeiro, do pedreiro, do carpinteiro, dos piqueno e médio cumercianti, vira lucro do budegão e vai circulá nim outa paragem, homi! Logo, todos aqui serão prejudicadus, cê intendeu, agora?
– Marrumeno, cumpade, marrumeno!

 – Mais num é só isso, não, homi de Deus! Tem muito mais: se os piqueno e médio vão quebrar, muitos vão ter que prucurá outa parage, dadonde possa sobrevivê; e logo nóis vai vê a cidade cheia de placas de VENDE e ALUGA, e os preços dos imóve dispencano. E tem ainda mais: os quebrado e disimpregado, além de seus fios, vão virar assartante e matar gente pra robá!... Bota sintido no qui tô te dizendo, homi, e a dispois vosmicê me fala!...

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Depreende-se da conversa acima que existem matutos por este Brasil afora que, mesmo analfabetos, raciocinam melhor do que muitos que ostentam um canudo de bacharel, mestre ou doutor. Aliás, aconteceu, recentemente, a mais inarredável prova do que estamos afirmando: um menino matuto, pobre e analfabeto, migrou de pau-de-arara de Garanhuns (PE) para São Paulo e virou Presidente da República. E mais: deixou em seu lugar, em homenagem à Dona Lindu – sua mãe – e a todas as mulheres do Brasil, uma mulher valente. E, mais ainda, deu um banho de cuia em generais e muitos doutores.  
        Imperatriz, 20 de dezembro de 2010


                                                                              
                                                                                      

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