AS
AGRESSÕES SILENCIOSAS
Francimar
Moreira
É um enorme equívoco imaginar que a
tragédia da violência pode vir a ser debelada apenas com ações policiais. É
inquestionável, entretanto, a necessidade crescente de polícias cada dia mais bem
preparadas e equipadas, além, é claro, de um serviço de inteligência que seja
capaz de detectar o planejamento e obstar a ação de delinquentes, antes que
seus projetos criminosos sejam de fato consumados.
É lamentável que o povo brasileiro ainda
seja inabilitado, ou cego e surdo, a ponto de não perceber que a violência que
nos intimida a todos é fruto de uma reação inconsciente à mais sórdida e
covarde de todas as agressões, que é aquela produzida de forma velada e vil, nos
carpetados e podres porões dos poderes, por gente torpe que, aboletada de algum domínio, julga-se no direito de saquear um povo
já traído e humilhado.
São de deixar estupefata qualquer pessoa
dotada de um mínimo de consciência cívica, as revelações dos absurdos
praticados por agentes públicos deste País. E, à desonestidade, adicione-se a
incompetência, o cinismo, a total falta de escrúpulo, além da inércia da
sociedade que, em não reagindo, acaba estimulando os vigaristas a investirem
cada vez, com mais audácia, sobre os cofres públicos e a economia popular.
É isso
mesmo: o avanço sobre o Erário não é a única maneira de subtrair recursos do
povo. A carga tributária absurda, o apelo para se consumir mais e aderir à moda
vigente, os juros escorchantes, as absurdas taxas dos cartões, os jogos
ilusórios e muito mais são também formas dissimuladas de as elites avançarem
sobre a economia popular, nutrindo a obscena desigualdade social e deixando
milhões de pessoas ainda mais vulneráveis.
Ora, como podemos controlar o ímpeto
transgressor, em uma sociedade marcada por obscena desigualdade social, se
pessoas ditas das elites, dos mais diversos setores da vida política,
econômica, social e religiosa são
costumeiramente flagradas em atos criminosos, sem que, no entanto, se tenha notícia
de que sejam, pelo menos, levemente punidas?!...
É
lógico que um povo detentor da fama de alegre, mas que, de fato, não passa de
bobo que se deslumbra até com as nádegas e as cicatrizes dos umbigos, aliás, alguns
até as exibem altivos, como se troféus fossem, não intui que a punição dos mensaleiros
resultou de injunções político-partidárias, porquanto, se olharmos com atenção,
haveremos de constatar que os grandes corruptos e corruptores continuam soltos,
traficando influências!...
É
evidente que as injustiças, o mau exemplo das elites, a indução ao consumo,
como forma de expropriar, e o abismo entre ricos e pobres, aliados à impunidade,
potencializam a violência! Também é devastador, para a autoestima dos jovens,
saber dos milhões que acumulam algumas “celebridades” da política, dos
negócios, da televisão, da agiotagem, e pior: a maioria sem produzir absolutamente
algo que expresse algum valor real.
Apesar das esquálidas manifestações, sem
foco, de junho de 2013, é desalentadora a inércia em que estão imersos
governantes e a sociedade em geral, diante da escalada do crime. Há, de fato,
uma paulatina erosão das autoridades; dos pais, dos professores e até das mais
altas patentes hierárquicas deste País, sem que se delibere, de forma efetiva,
como coibir a afronta dos transgressores, que crescem em número e ousadia.
Não dignamo-nos sequer a discutir com
realismo e sob os faróis da Ciência a cruciante questão da delinquência infanto-juvenil!...
Políticos oportunistas e inescrupulosos ficam o tempo todo pensando nas
próximas eleições, certamente confiantes na indiferença e ignorância da
sociedade, envolvida que vive muito mais com a novela das oito, os campeonatos de futebol, ou o próximo
lançamento da moda.
Ora, os
escândalos praticados nos subterrâneos dos poderes e noticiados quase diariamente
pela imprensa são, sem nenhuma dúvida, um enorme estímulo à violência que salta
aos olhos. E, enquanto a selvageria prospera presunçosa, governantes torram
bilhões em propaganda enganosa, na tentativa de fazer os incautos acreditarem
que municípios, estados e o País vão todos às mil maravilhas!...
Deixa-nos
pasmos o fato de os criminosos não aceitarem que dificultem o seu “trabalho” e
reagirem contra a ação da polícia, de forma cada vez mais violenta, em investidas
ousadas e fulminantes. Ou seja: estupram e degolam crianças e anciãos, dizimam
famílias inteiras, esquartejam e alimentam cães com os corpos de desafetos, divertem-se
ateando fogo em suas vítimas..., e não admitem que se lhes perturbem!...
É certo
que uma nação que tolera o que vem ocorrendo no Brasil, sem exigir dos
governantes medidas que coíbam, com o devido rigor, a tragédia da violência,
não pode aspirar aos privilégios do nível civilizatório de que alguns países já
desfrutam. Assim como não pode ser considerada uma sociedade sustentável, seja
do ponto de vista político ou, em conceitos mais abrangentes, social, cultural,
econômico e ambiental.
É tudo
muito claro: uma sociedade cujos governantes beneficiam oligopólios, com
isenções fiscais e entregando-lhes BILHÕES DE REAIS DO TESOURO a juros subsidiados,
como se faz no Brasil, dinheiro que, ou é torrado ou usado para asfixiar empreendedores
menores, não pode aspirar ao ingresso no clube dos países ricos e, muito menos,
integrar o bloco das nações ditas civilizadas e/ou, política e socialmente, sustentáveis.
Patinamos,
sim, em um estágio de absoluta e obscena desigualdade. Uns poucos esbanjam luxo
e riqueza. Os pequenos e médios empreendedores trabalham no limite de suas
forças, para sobreviver e cumprir as suas obrigações. No serviço público, há
uma casta de privilegiados, em detrimento da maioria que é mal remunerada, e, a
esmagadora maioria do povo vive mesmo é atolada em dívidas, senão em situação
miserável.
Enquanto
o que afirmamos acima se evidencia a quem tem olhos de ver e atormenta a consciência
de quem a possui lúcida, bilhões de reais são torrados em propaganda ilusória,
com o intento de induzir a todos a consumir mais e a convencer-se de que os
governantes e as elites estão fazendo o que podem para que o futuro dos
brasileiros seja bem melhor. Certamente, melhor apenas para eles!...
A
ultrajante verdade é a existência de uma tributação absurda, concentração de
renda obscena, inércia do poder público, uma desigualdade abissal entre ricos e
pobres, muita corrupção e, sobretudo, saques incessantes ao Erário, formando,
assim, AS AGRESSÕES SILENCIOSAS, urdidas nos carpetados e podres
porões dos poderes, e que persistirão soberbas, nutrindo o clima apropriado à tragédia
da violência que salta aos olhos.
Imperatriz,
01 de dezembro de 2013
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