segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

ASSUNTEMOS BEM

Dois cidadãos do povo estavam no domingo (16/02/2014), às cinco horas da manhã, contemplando, pasmos, o aguaceiro que inundou a cidade de Imperatriz. De repente um disse para o outro:
– Cumpade, isso foi chuva por dimais, homi de Deus!...
– Qui nada, cumpadi (respondeu o outro), diante do chuvaréu qui fez o Noé usar sua canoa pru mode sarvá alguns bichos, foi somente uns chuviscos...  
– E cuma expricar tanta água, meu cumpadi?!...   

– É facio por dimais, omi. Preste atenção: cadê as lagoas, os reservatórios naturais das águas?... Entupiram e fizeram prédios em riba!... Cadê os riachos, caminhos naturais das águas?... Entupiram e construíram prédios em riba!... Diante desses fatos, cabia às águas procurar novos caminhos ou ficar paradas; querem o quê? Mudar a lei da inércia ou a da gravidade?!...  

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

AS AGRESSÕES SILENCIOSAS
                                                 Francimar Moreira

É um enorme equívoco imaginar que a tragédia da violência pode vir a ser debelada apenas com ações policiais. É inquestionável, entretanto, a necessidade crescente de polícias cada dia mais bem preparadas e equipadas, além, é claro, de um serviço de inteligência que seja capaz de detectar o planejamento e obstar a ação de delinquentes, antes que seus projetos criminosos sejam de fato consumados. 
É lamentável que o povo brasileiro ainda seja inabilitado, ou cego e surdo, a ponto de não perceber que a violência que nos intimida a todos é fruto de uma reação inconsciente à mais sórdida e covarde de todas as agressões, que é aquela produzida de forma velada e vil, nos carpetados e podres porões dos poderes, por gente torpe que, aboletada de algum domínio, julga-se no direito de saquear um povo já traído e humilhado.
São de deixar estupefata qualquer pessoa dotada de um mínimo de consciência cívica, as revelações dos absurdos praticados por agentes públicos deste País. E, à desonestidade, adicione-se a incompetência, o cinismo, a total falta de escrúpulo, além da inércia da sociedade que, em não reagindo, acaba estimulando os vigaristas a investirem cada vez, com mais audácia, sobre os cofres públicos e a economia popular.
É isso mesmo: o avanço sobre o Erário não é a única maneira de subtrair recursos do povo. A carga tributária absurda, o apelo para se consumir mais e aderir à moda vigente, os juros escorchantes, as absurdas taxas dos cartões, os jogos ilusórios e muito mais são também formas dissimuladas de as elites avançarem sobre a economia popular, nutrindo a obscena desigualdade social e deixando milhões de pessoas ainda mais vulneráveis.
Ora, como podemos controlar o ímpeto transgressor, em uma sociedade marcada por obscena desigualdade social, se pessoas ditas das elites, dos mais diversos setores da vida política, econômica, social e religiosa são costumeiramente flagradas em atos criminosos, sem que, no entanto, se tenha notícia de que sejam, pelo menos, levemente punidas?!...  
É lógico que um povo detentor da fama de alegre, mas que, de fato, não passa de bobo que se deslumbra até com as nádegas e as cicatrizes umbilicais, aliás, alguns até as exibem altivos, como se troféus fossem, não intui que a punição dos mensaleiros resultou de injunções político-partidárias, porquanto, se olharmos com atenção, haveremos de constatar que os grandes corruptos e corruptores continuam soltos, traficando influências!...
É evidente que as injustiças, o mau exemplo das elites, a indução ao consumo, como forma de expropriar, e o abismo entre ricos e pobres, aliados à impunidade, potencializam a violência! Também é devastador, para a autoestima dos jovens, saber dos milhões que acumulam algumas “celebridades” da política, dos negócios, da televisão, da agiotagem, e pior: a maioria sem produzir absolutamente algo que expresse algum valor real.  
Apesar das esquálidas manifestações, sem foco, de junho de 2013, é desalentadora a inércia em que estão imersos governantes e a sociedade em geral, diante da escalada do crime. Há, de fato, uma paulatina erosão das autoridades; dos pais, dos professores e até das mais altas patentes hierárquicas deste País, sem que se delibere, de forma efetiva, como coibir a afronta dos transgressores, que crescem em número e ousadia.  
Não dignamo-nos sequer a discutir com realismo e sob os faróis da Ciência a cruciante questão da delinquência infanto-juvenil!... Políticos oportunistas e inescrupulosos ficam o tempo todo pensando nas próximas eleições, certamente confiantes na indiferença e ignorância da sociedade, envolvida que vive muito mais com a novela das oito, os campeonatos de futebol, ou o próximo lançamento da moda.
Ora, os escândalos praticados nos subterrâneos dos poderes e noticiados quase diariamente pela imprensa são, sem nenhuma dúvida, um enorme estímulo à violência que salta aos olhos. E, enquanto a selvageria prospera presunçosa, governantes torram bilhões em propaganda enganosa, na tentativa de fazer os incautos acreditarem que municípios, estados e o País vão todos às mil maravilhas!...   
Deixa-nos pasmos o fato de os criminosos não aceitarem que dificultem o seu “trabalho” e reagirem contra a ação da polícia, de forma cada vez mais violenta, em investidas ousadas e fulminantes. Ou seja: estupram e degolam crianças e anciãos, dizimam famílias inteiras, esquartejam e alimentam cães com os corpos de desafetos, divertem-se ateando fogo em suas vítimas..., e não admitem que se lhes perturbem!...
É certo que uma nação que tolera o que vem ocorrendo no Brasil, sem exigir dos governantes medidas que coíbam, com o devido rigor, a tragédia da violência, não pode aspirar aos privilégios do nível civilizatório de que alguns países já desfrutam. Assim como não pode ser considerada uma sociedade sustentável, seja do ponto de vista político ou, em conceitos mais abrangentes, social, cultural, econômico e ambiental.
É tudo muito claro: uma sociedade cujos governantes beneficiam oligopólios, com isenções fiscais e entregando-lhes BILHÕES DE REAIS DO TESOURO a juros subsidiados, como se faz no Brasil, dinheiro que, ou é torrado ou usado para asfixiar empreendedores menores, não pode aspirar ao ingresso no clube dos países ricos e, muito menos, integrar o bloco das nações ditas civilizadas e/ou, política e socialmente, sustentáveis.     
Patinamos, sim, em um estágio de absoluta e obscena desigualdade. Uns poucos esbanjam luxo e riqueza. Os pequenos e médios empreendedores trabalham no limite de suas forças, para sobreviver e cumprir as suas obrigações. No serviço público, há uma casta de privilegiados, em detrimento da maioria que é mal remunerada, e, a esmagadora maioria do povo vive mesmo é atolada em dívidas, senão em situação miserável.
Enquanto o que afirmamos acima se evidencia aos que tem olhos de ver e atormenta a consciência dos que a possui lúcida, bilhões de reais são, também, torrados pela iniciativa privada, em propaganda ilusória, com o intento de induzir a todos a consumir mais e a convencer-se de que as elites e os governantes estão fazendo o que podem para que o futuro dos brasileiros seja cada dia melhor. Certamente, melhor apenas para eles!...
A ultrajante verdade: é uma tributação absurda, concentração de renda obscena, inércia do poder público, desigualdade abissal entre ricos e pobres, muita corrupção, um sistema político imoral, e, sobretudo, saques incessantes ao Erário, a mãe das AGRESSÕES SILENCIOSAS, urdidas nos carpetados e podres porões dos poderes, e que persistirão soberbas, nutrindo o clima apropriado à tragédia da violência que salta aos olhos.                                                                                                                   
                                                                           Imperatriz, 01 de dezembro de 2013